Mobilização no trevo de São Miguel das Missões reúne produtores de diversos municípios da região noroeste em apelo por políticas públicas que garantam sobrevivência no campo
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Um grupo de agricultores de diversos municípios da região noroeste do Rio Grande do Sul iniciou, nesta semana, uma manifestação pacífica no trevo da BR-285, no acesso ao município de São Miguel das Missões. O protesto é mais um capítulo da crescente insatisfação do setor agrícola com a falta de resposta do governo federal às reivindicações relacionadas à securitização das dívidas rurais — mecanismo considerado essencial pelos produtores para garantir a continuidade da atividade no campo após quatro safras consecutivas de prejuízos.
Durante a mobilização, que se mantém ao longo do dia, os agricultores realizam bloqueios parciais da rodovia. A cada 10 minutos, o tráfego é liberado para a passagem de veículos, enquanto manifestantes distribuem panfletos explicativos aos motoristas e passageiros que transitam pela região. Segundo os organizadores, a ação tem caráter educativo e visa chamar a atenção da sociedade e das autoridades para a crise enfrentada pelo setor produtivo rural.
Quatro safras de frustração
Os protestos são motivados por uma sequência de quatro anos de colheitas frustradas. Três dessas safras foram severamente impactadas por estiagens prolongadas, e a mais recente, por enchentes devastadoras, que comprometeram plantações inteiras e causaram perdas irreparáveis. “Não é por má gestão. Nós queremos pagar nossas dívidas. Mas sem ajuda, sem prazos e condições reais, não há como continuar produzindo”, relata o agricultor RENAN MINETO.
De acordo com a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Rio Grande do Sul (FETRAF-RS), as perdas acumuladas são incalculáveis para pequenos e médios produtores. Muitos já estão inadimplentes e enfrentam dificuldades de acesso ao crédito para financiar as próximas safras. O pleito central da categoria é a securitização das dívidas agrícolas, ou seja, a renegociação e reestruturação dos débitos com prazos mais amplos, taxas de juros adequadas e condições específicas para agricultores impactados por desastres climáticos.
Mobilização cresce no interior
A manifestação no trevo de São Miguel das Missões não é um ato isolado. Nos últimos meses, agricultores de diferentes regiões do estado têm se mobilizado por ações semelhantes. Em fevereiro, o Planalto Médio também registrou bloqueios em trechos da BR-386, e em maio, produtores de leite e soja promoveram vigílias em frente a agências bancárias.
“Estamos pedindo dignidade. Ninguém quer calote, queremos apenas condições justas para continuar plantando e colhendo. O que está em jogo é a soberania alimentar do país”, afirmam OS AGRICULTORES.
Até o momento, o governo federal não apresentou uma proposta oficial que contemple as demandas dos agricultores. Representantes do Ministério da Agricultura informaram que o tema está sendo avaliado, mas não há previsão para o anúncio de medidas específicas voltadas à securitização. A ausência de um plano emergencial aumenta a pressão sobre o Executivo, sobretudo em um momento em que a insegurança climática e econômica se agrava no campo.
Enquanto isso, os agricultores prometem manter os protestos de forma pacífica, mas contínua, até que sejam ouvidos. “Estamos cansados de promessas. O campo não pode esperar”, resume Pedro Canali, produtor de milho e soja da região.
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