A maior tragédia climática do no Rio Grande do Sul, com dias consecutivos de chuvas extremas que deixaram 83 mortos e mais de 100 desaparecidos, completa uma semana nesta segunda-feira (6) — e sem perspectiva de terminar.
O avanço de uma frente fria, prevista para a metade desta semana, deve provocar novas pancadas de chuva e derrubar a temperatura no estado.
Por mais que as próximas precipitações previstas sejam menos volumosas, elas podem retardar o processo de drenagem de toda a água que tomou a região. O Guaíba, por exemplo, continua quase 2,3 metros acima da cota de inundação nesta segunda, mesmo após uma trégua temporária nas chuvas.
Segundo meteorologistas ouvidos pelo g1, este não é um fenômeno isolado: a catástrofe está relacionada principalmente à onda de calor que atinge as regiões Sudeste e Centro-Oeste desde o fim de abril. Ela causa um bloqueio atmosférico que deixa o centro do país seco e quente, e impede que as frentes frias no Sul avancem.
Humberto Barbosa, meteorologista coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens de Satélite da Universidade Federal de Alagoas (Lapis - Ufal), resume o fenômeno:
“A 'redoma' de calor (ou bloqueio atmosférico) está segurando toda a condição de céu claro e tempo bom no Sudeste e Centro-Oeste e impedindo que as frentes frias avancem. Nesta época, era para estar chovendo nessas duas regiões, mas, em função da redoma, a chuva 'escorregou' [para oeste] e ficou mais concentrada no Sul do país", explica o especialista.
Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo, explica que foram sucessivas tentativas de frentes frias vencerem o bloqueio:
"O cenário era instável na região há alguns dias, mas a soma desses fatores fez intensificar a chuva. O que acontece é que tivemos várias frentes frias que não conseguiram se dissipar para outras regiões por causa do bloqueio atmosférico e, com isso, elas passaram a agir sobre todo o Rio Grande do Sul".
Além do bloqueio atmosférico, há ainda os seguintes fatores:
Segundo Luengo, o Sul do país já costuma ter condições que favorecem tempestades nesta época do ano, mas o que seria um evento isolado se transformou em uma catástrofe.
“O oceano [Atlântico] mais quente, como estamos vendo agora, faz com que seja gerada mais energia para a formação das chuvas. Com isso, elas chegam a esses níveis que nunca vimos antes. A mudança no padrão do clima interfere na atmosfera e muda o ciclo dos fenômenos que aconteciam, deixando-os mais intensos”, afirma o meteorologista.
Cenário de piora
O coordenador da equipe de monitoramento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), Marcelo Seluchi, explica que a soma das condições listadas acima criou o cenário para o maior volume de chuva já registrado na história do estado.