Enquanto a cidade de Santo Ângelo segue seu curso diário, moradores de uma das regiões da zona norte enfrentam um drama silencioso, porém insuportável. Na rua Rodolfo Rogowski, esquina com a travessa Nordeste — próximo ao conhecido Armazém Martins — o cotidiano é marcado por um inimigo invisível, mas altamente nocivo: o esgoto a céu aberto.
Quando Chove, o Desespero Aumenta
A situação, que já era precária, piorou nos últimos dias com o volume de chuvas intensas que atingiram a região. Com o solo saturado e os sistemas de escoamento totalmente comprometidos, o esgoto transborda dos canos e invade as casas. Detritos, mau cheiro e riscos à saúde se tornaram parte da rotina dos moradores.
“Já não sabemos mais o que fazer. Quando começa a chover, a gente não dorme, porque sabe que o esgoto vai voltar pelas tampas dos ralos, vai entrar pela porta de trás”, relata Dona Maria Aparecida, moradora da rua há mais de 15 anos. “A gente já procurou ajuda, já chamaram o Meio Ambiente, mas tudo fica na promessa.”
Poder Público: Visitas Sem Solução
A reclamação da comunidade é clara: a Prefeitura de Santo Ângelo está ciente do problema, mas não age de forma efetiva. Equipes da Secretaria do Meio Ambiente teriam visitado o local, viram de perto a situação crítica, mas até agora, segundo os moradores, nenhuma obra foi realizada.
“É muito fácil vir aqui, tirar foto e ir embora. Queremos solução. Vivemos com medo das crianças adoecerem”, diz outro morador da travessa Nordeste.
Rede de Esgoto é Irregular, Diz Corsan
Buscando uma resposta técnica, a reportagem entrou em contato com a CORSAN — Companhia Riograndense de Saneamento. A resposta, porém, frustrou ainda mais as esperanças da população local.
De acordo com a companhia, a rede existente no bairro Rogowski é considerada clandestina, ou seja, não foi instalada com o devido projeto técnico nem pela Corsan nem pelo município. Como a Corsan não opera sistema de esgoto naquela área, a empresa afirmou que não pode realizar nenhuma intervenção.
Na prática, isso significa que caberia ao poder público municipal encontrar e executar uma solução definitiva, seja com a instalação de um sistema adequado, seja com a regularização da rede existente.
Impactos à Saúde Pública
A presença constante de esgoto a céu aberto representa um grave risco sanitário. Doenças como hepatite A, leptospirose, diarreias infecciosas e outras infecções de veiculação hídrica podem se espalhar com facilidade em ambientes assim. Crianças, idosos e pessoas com imunidade baixa são as mais vulneráveis.
Além disso, o cheiro forte e a proliferação de mosquitos transformam qualquer tentativa de manter uma rotina normal em um verdadeiro desafio.
A Luta por Voz e Justiça Social
A realidade enfrentada pelos moradores do Bairro Rogowski expõe mais do que um problema técnico: trata-se de uma questão de justiça social e dignidade urbana. Enquanto algumas regiões recebem investimentos em infraestrutura e saneamento, outras seguem invisíveis.
Diante disso, os moradores apelam por uma mobilização mais ampla. “Se não olham por nós, vamos bater em todas as portas até sermos ouvidos”, afirma Dona Maria, com a convicção de quem já passou da indignação para a resistência.
E Agora?
Enquanto isso, o esgoto segue escorrendo a céu aberto, como um lembrete fétido de que, para muitos brasileiros, o básico ainda é um luxo.
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